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Channel: Roteiros de quadrinhos
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Roteiro Baghavad

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Baghavad
Roteiro de Gian Danton
Página 1
Q1 - Os quatro narradores sentados à mesa. O narrador desta história será o único que até o momento não teve história. Vamos chamá-lo de Roger.
Roger: Eu também tenho uma história. Vocês sabem que já trabalhei para a Companhia no setor de mineração. Não, eu não era um mineiro. Nós éramos encarregados da limpeza dos países que estava sendo explorados.
Q2 – Close em Roger.
Roger: Essa limpeza muitas vezes significa a extinção de espécies indesejadas. Os Zhorts eram um exemplo disso.
Q3 – Um grupo de homens equipados com uma espécie de bomba de veneno e um esguicho de desinfetante, jogando o desinfetante sobre uma espécie de monstro parecido com uma bactéria ou uma ameba.
Texto: Eram seres monstruosos que habitavam um planeta sem nome catalogado apenas como Y-17.
Q4 – Variação da cena anterior.
Texto: Alguns ativistas chegaram a fazer protestos contra  a desinfecção dos monstros. Mas para a opinião pública, eles eram apenas pragas. Eram como vírus, que deviam ser desinfetados.

Página 2
Q1 – Close de Roger.
Roger: Uma medida sanitária. Era o que eu achava. Ate aquele dia.
Página 2
Q2 – Um grupo de exterminadores persegue dois ou três monstros.
Texto: Havíamos encontrado um pequeno grupo de zhorts e os seguimos até o grupo maior.
Q3 – Quadro grande, de impacto. Os soldados chegam a uma espécie de clareira. Há vários monstros em volta de um garoto vestido como mendigo. O garoto está sobre uma espécie de pedra, sentado em posição de Buda. Os monstros se inclinam respeitosamente na direção dele.
Texto: O que encontramos foi algo extraordinário.
Eles estavam em círculo, ao redor de um garoto humano.
Q4 – quadro de flash back. O garoto da cena anterior pedindo esmola numa cidade improvisada.
Texto: Eu conhecia aquele pivete.
Era uma das muitas crianças que vagavam pelas ruas do acampamento, pedindo comida ou dinheiro.
Q5 – close de Roger. Ele parece assustado, olhando para o garoto. Se não der para mostrar o garoto, mostre apenas a reação dele.
Texto: Era o mesmo garoto, mas havia algo de muito, muito estranho com ele. 

Para ler essa HQ completa, já desenhada, clique aqui

Entrevista com Wilde Portella

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Wilde Portella é um verdadeiro mestre num gênero de roteiro pouco praticado pelos brasileiros: o faroeste. O gibi do Chet, criado em parceria com o irmão Watson Portella foi um grande sucesso no final da década de 1970 e início dos anos 1980, pela editora Vecchi. E o personagem está de volta para conhecer o Blog do Chet, clique aqui).
Wilde aceitou responder algumas perguntas sobre sua experiência como roteirista.


Como você começou a se interessar por quadrinhos? O que lia quando era criança?
Comecei a me interessar por histórias em quadrinhos justamente quando criança e lia as revistas do Pato Donald, O Guri, O Pequeno Xerife e Texas Kid (O Tex Willer), e muito depois Zorro, Jerônimo, O Herói do Sertão, etc.
Quais foram os roteiristas que o influenciaram?
Acredito eu nenhum roteirista me influenciou. Porém, a partir do momento em que comprei o número um de Epopéia Tri, tive uma visão diferente das histórias em quadrinhos que abordam o tema do faroeste. Depois passei a ler Tex e acredito que tive alguma influência com a fórmula do G.L. Bonelli escrever seus roteiros. Os italianos sempre foram melhores em lidar com o Velho Oeste seja no cinema ou nos quadrinhos.

Como você começou a escrever quadrinhos? Qual foi o seu primeiro trabalho profissional?
Meu primeiro trabalho profissional foi uma revista que tinha o título de O Águia, escrita por mim e desenhada por Watson Portella. Foi feita para uma editora lá de Alagoas, em Arapiraca. Foi um fracasso total, pois foi feito BA base do velho clichê que a nova geração nem conhece, e fotolito para fotografar as páginas. Nem eu nem meu irmão ficamos com uma revista para mostrar para a posteridade. A personagem era um herói mascarado e com capa que lutava contra os nazistas. Quer dizer, um tema batido e já abordado por diversas vezes nas revistas Capitão América e Os Falcões. Assim escrevi meu primeiro roteiro. Mas quando criança, com 11 e 12 anos eu e Watson já produzíamos nossas “revistas” (desenhos e histórias) em velhos cadernos escolares ou em material que nosso pai trazia da Prefeitura onde era Auditor.
O personagem pelo qual você é mais lembrado é o cowboy Chet, talvez o único faroeste nacional que fez grande sucesso. como foi o processo de criação desse personagem?
Caramba! Já respondi essa pergunta umas quinhentas vezes. Chet foi feito por encomenda do Lotário Vecchi na época em que o Otacílio D’Assunção Barros era editor da Vecchi. Então houve todo aquele processo. Começamos com seis capítulos como complemento da revista Ken Parker. Como a aceitação foi boa logo ganhou revista própria e chegou a ser a segunda HQ mais vendida da editora. Só perdendo, claro, para o Tex do Bonelli.

Além de Chet, que outros trabalhos você  destacaria?
Destacaria diversos trabalhos que fiz para o jornal Diario de Pernambuco, Grafipar, Portugal e EBAL. Mas o material que sinto mais orgulho é O Caçador de Esmeraldas que fizemos para a Editora Brasil América. Nós mudamos a fórmula de fazer álbuns paradidáticos. Usamos uma linguagem cinematográfica e funcionou.

Como é a sua relação com o desenhista? Como você escreve o roteiro? Faz full script, marvel way ou rafeia?
Seguinte: Eu escrevo um roteiro meio cinematográfico, com legendas e balões e indicando como fica a cena. Então o desenhista acompanha esse meu raciocínio e atualmente faço questão de ver como ficou a página no lápis. Se ficou bom,ok, caso contrário oriento o desenhista que também pode ficar à vontade para colocar uma cena melhor que a sugerida por mim.
Já teve problemas com desenhistas?
Não, nunca tive problemas com desenhistas. Na época da Vecchi quem cuidava dos desenhistas era o OTA. Eu só mandava a história com 100 páginas e ele se virava. Para que o projeto desse certo chegamos a preparar três revistas com antecedência. E atualmente trabalho com amigos e jovens desenhistas que, por incrível que pareça são fãs do Chet.
Que conselhos você dá a um roteirista iniciante?
Conselho nenhum. A arte de escrever um roteiro tem que estar dentro da pessoa. O que poderia dizer é que sempre caprichem nas histórias. Uma boa história faz com que o desenho ganhe vida. Não adianta um ótimo desenho com uma história ruim. E se o roteirista souber rafear, melhor ainda. Eu sei, mas prefiro escrever.
Eu sempre digo que um dos defeitos do pessoal que quer ser roteiristas é ler só quadrinhos, Que livros você indicaria como leitura obrigatória para um roteirista?
Há livros que podem ajudar o roteirista sim, como por exemplo, numa história longa é necessário ter tramas paralelos. Numa história curta o foco principal pode ser as personagens centrais. O roteirista não deve se guiar apenas em histórias em quadrinhos. Um livro que acho interessante são aqueles que utilizam uma linguagem coloquial o que acontece geralmente num bom romance. Já uma novela escrita para livro não ajuda muito. Os livros Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques), Isabel de Minha Alma (Isabel Allende) e segue por aí. O candidato a roteirista deve le, no entanto, o autor que ele achar melhor. Quando a mim, leio de tudo, biografias, ensaios, romances, vovelas e contos.

Capa do livro Spectra

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A editora Literata já divulgou a capa da antologia Spectra, com histórias sobre fantasmas. Eu participo com o conto Lembranças de sangue. A edição deve  sair em abril

Entrevista com Marcos Franco

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Marcos Franco é um dos grandes roteiristas da nova geração. Apesar de estar pouco tempo na estrada, ele foi o ganhador do Ângelo Agostini deste ano como melhor roteirista. Conheça um pouco mais desse grande talento bahiano. 
 
Como você começou a ler quadrinhos? 

Comecei a ler quadrinhos aos 6 ou 7 anos. Tive uma criação bastante rígida, por vezes até violenta, meus pais não me deixavam sair muito de casa, na maior parte do tempo eu vivia recluso em um quarto e os quadrinhos eram a minha única companhia.  Os gibis eram o meu mundo particular, meu universo de fantasias que ajudavam a transpor as paredes daquela “prisão”. Lembro que uma das poucas pessoas com quem meus pais me deixavam sair era a minha avó. Eu era o único neto homem e ela fazia todas as minhas vontades, uma delas era comprar quadrinhos, praticamente toda semana nós íamos às bancas e sebos do centro comercial da minha cidade. Pois é, a “válvula de escape” para um drama pessoal vivido na infância acabou por se tornar a minha maior paixão.

Os quadrinhos foram para você uma espécie de terapia? Pode dizer que os quadrinhos o salvaram? Tive a mesma impressão ao ver o documentário sobre o Crumb. Vendo a família dele, percebemos que ele não enlouqueceu por causa dos quadrinhos.

Digamos que sim. Bom... Comigo não chegou a ser tão barra pesada, mas confesso que ainda tenho certos bloqueios por conta dessa criação. Meus pais eram dogmáticos, tinham uma disciplina dura e inflexível, não era permitido discordar de sua autoridade ou questioná-la. 
Meu pai, homem rude e simples do campo, não tinha muito trato na educação dos filhos, para ele a violência era sempre a melhor pedagogia. Já a minha mãe era aquele tipo superprotetora,ela entendia o significado da palavra proteção de uma forma um tanto exagerada. Ficava de plantão o  tempo todo, não me deixava sair, controlava minhas amizades e tudo que por ventura podesse me corromper ou causar mal (era o que ela pensava). Sei que eles faziam isso com a melhor das intenções, no entanto acho que isso me prejudicou mais mais do que ajudou.

Quais eram os gibis que a sua avó comprava para você?
Minha avó e também os meus pais (às vezes) compravam coleções e títulos avulsos de diversas editoras e gêneros. Eu tinha uma coleção bastante razoável (hoje ela é bem maior) e a molecada do bairro costumava ir sempre lá em casa só para trocar gibis. Eles costumavam me comprar títulos variados do terror nacional (a muito contra gosto), muita coisa Marvel/DC das editoras EBAL, Bloch, RGE e Abril e bastante quadrinho infantil. Lembro-me com saudosismo de revistas como Os Trapalhões, Riquinho, Bolinha e Luluzinha, Bolota, Recruta Zero, Mortadelo e Salaminho, Os Tutti Frutti, Cacá, Pantera Cor de Rosa e Popeye. Ainda guardo com carinho algumas delas.

Quais foram os autores que te influenciaram? 

 Têm vários. A maioria das influências em roteiro é mesmo nacional. Vale citar os principais: Júlio Emílio Braz, Ataíde Braz, Elmano Silva, Ota, Rubens Francisco Lucchetti, Luís Meri, E. C. Nikel, Carlos Patati e um certo Gian Danton. Durante as décadas de 70 e 80 eu acompanhei praticamente tudo o que essas lendas vivas do quadrinho nacional produziram para editoras como Grafiphar, Vecchi, ICEA, Press Editorial, D-Arte e Bloch. Ah! Bons tempos aqueles...

Como você começou a escrever quadrinhos? 

 No ano de 1991 aconteceu um seminário sobre quadrinhos na Universidade Estadual de Feira de Santana organizado pelo pessoal da saudosa revista em quadrinhos baiana “Pau de Sêbo”. Quando soube não contei dois tempos, chamei um colega que também curtia quadrinhos e me mandei escondido para o evento. Aquele foi um acontecimento mágico e inesquecível para mim, na oportunidade tive o prazer de conhecer nomes como Paulo Setúbal, Lage, Caó Cruz e o mestre Antonio Cedraz (grande ídolo e amigo). Inspirado por essa turma e motivado pelo sucesso do IQI (hoje QI) do Professor Edgard Guimarães, em 1995 publiquei o meu primeiro fanzine. Foi através dessa publicação que dei o pontapé inicial como roteirista de quadrinhos.

Como foi ganhar o Ângelo Agostini? Você já esperava? 

 Eu fiquei um tanto surpreso e contente pela premiação. Foi realmente muito gratificante ser homenageado por uma das mais tradicionais premiações do quadradinho nacional e ter o trabalho reconhecido após quinze anos de produção independente. Eu sempre sonhei com uma premiação desse tipo. Imaginei diversas vezes momentos como esse, durante esse período em que produzo quadrinhos. Essa premiação é sem sobra de dúvida um grande marco e um importante divisor de águas na minha trajetória como roteirista. Daqui pra frente o meu trabalho será mais respeitado e com certeza muito mais cobrado.Disso eu não tenho dúvida.

O trabalho que provavelmente deve ter lhe garantido o prêmio foi Lucas da Feira. Fale um pouco sobre esse trabalho. 

 Verdade. A idéia da criação do álbum surgiu há alguns anos, muito embora desde a infância possuísse grande fascínio pela figura do lendário escravo Lucas da Feira. Na verdade eu sempre tive uma relação bastante próxima à cultura popular da minha região e as coisas ligadas ao campo. Costumava ouvir dos mais velhos “causos” e histórias sobre todos esses mitos do sertão, sobretudo a seu respeito. Foram essas lembranças que me levaram a pesquisar e transportar ao universo dos quadrinhos sua polemica história. Comecei a parte de pesquisa no finalzinho da década de noventa, na oportunidade entrevistei o pesquisador Joaquim Gouveia Gama e li o romance biográfico “Lucas, o Demônio Negro”, de Sabino de Campos. Já na segunda etapa, toda ela realizada em parceria com Marcelo Lima (grande amigo e também parceiro na idealização do roteiro do álbum) teve inicio em 2008 e durou pouco mais de um ano. Durante esse período, consultamos cordéis, a dissertação de mestrado da professora Zélia de Jesus Lima e realizamos uma nova série de entrevistas com pesquisadores, historiadores e anciões da zona rural de Feira de Santana. Após a conclusão da parte de pesquisa e execução do roteiro escrevemos (Marcelo e eu) o projeto no edital Microprojetos Mais Cultura doSemiárido, que viabilizou a publicação obra.

Uma outra obra sua bastante conhecida é a Penitência. Como foi a gênese dessa personagem? 

A idéia da criação da personagem surgiu em meados da década de 90. Ela fez sua estréia a exatos quinze anos, na edição primeira do fanzine New Heros. Na época eu já havia criado vários outros personagens, mas nenhum deles havia emplacado da forma prevista, obviamente pelo fato de serem apenas meras cópias dos enlatados Norte-Americanos. Foi aí que tive a sacada de abordar o gênero Comic de uma forma diferente. Notei que os personagens misteriosos, sombrios e com poderes sobrenaturais despertavam certo fascínio no leitor, então decidi criar uma personagem que seguisse essas vertentes. A Penitência também surgiu como um reflexo da minha postura filosófica de vida. Sou adepto do deísmo, uma filosofia que admite a existência de um Deus criador, mas questiona as denominações religiosas e as chamadas revelações divinas.

Cite 10 quadrinhos que um roteirista deve ler. 

Certa feita um mestre do quadrinho nacional fez a seguinte declaração: “Um bom roteirista tem que ler de tudo, não pode se prender a uma única influência.” Eu concordo com ele em gênero número e grau.  Um bom roteirista tem que beber em várias fontes e assimilar o melhor de cada uma delas. Seguindo essa linha de pensamento o meu “top 10” de leitura obrigatória fica da seguinte forma: No Coração da Tempestade, de Will Eisner; Asterix,de Goscinny; Watchmen e O Monstro do Pântano, de Alan Moore; Sandman, de Neil Gaiman; Companheiros do Crepúsculo, de François Bourgeon; Batmam - O Cavaleiro das Trevas, de  Frank Miller e Klaus Janson; Maus - A História de um Sobrevivente, de Art Spiegelman; O Trio Diabólico e O Homem do Patuá, Elmano Silva (Mano) e por fim, Mortadelo e Salaminho do espanhol  Francisco Ibáñez.

Que livros você indicaria para um roteirista iniciante?
Independente de gênero ou temática a literatura é bastante importante para um roteirista iniciante, pois ela enriquece a sua compreensão do mundo e ajuda na criação de roteiros mais embasados e profundos. Sugiro que não se apegarem apenas a leitura de HQs, porque em certos momentos ficaram limitados. Minha dica de livros servirá em especifico ao quesito “técnica”. Eu indico “Roteiro – Os Fundamento do Roteirismo”, de  Syd Field, “Quadrinhos e Arte Seqüencial” do Will Eisner, “Desvendando os Quadrinhos”, de Scott McCloud e o seu O roteiro nas Histórias em Quadrinhos , publicado pela editora Marca da Fantasia.
 
Quais características um bom roteirista deve cultivar? 

 As caracteristicas basicas de um bom roteirista são a compulsão pela perfeição, visão crítica, percepção estética e  uma grande paixão pelo que faz. Um bom roteirista também deve ter uma boa dose de originalidade, poder de persuasão, raciocínio lógico, amplo repertório literário e bastante autocrítica. Para que se possa aprender e crescer em qualquer profissão é preciso ter capacidade de fazer autocrítica, debater e principalmente ter a humildade de tirar dúvidas quando necessário.

Como é o seu processo de criação? Como você estrutura o roteiro? Como é a sua relação com o desenhista? 

 Não tem muito mistério. Eu normalmente elaboro o roteiro a partir do argumento, transformando esta idéia em um texto estruturado com diálogos e cenas. Começo com a mentalização do enredo e depois passo as idéias para o papel (digo, PC) na forma de uma sinopse onde narro em ordem cronológica todo o enredo da HQ. Em seguida, faço a decupagem e desfragmento o texto definindo a quantidade de páginas e quadros por página. Por fim, realizo uma pesquisa sobre os temas abordados no roteiro e elaboro as legendas e diálogos. Já a minha relação com o desenhista é bastante é tranquila e sem neuras, costumo dar liberdade para “ele” interagir com o roteiro, alterar planos, enquadramentos e até mesmo cenas por completo. 

Lançamento do livro O roteiro nas histórias em quadrinhos

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 Dia 17 de junho o SESC Centro será palco do lançamento do meu livro O roteiro nas histórias em quadrinhos (editora Marca de Fantasia). Na ocasião, estarei autografando também a coletânea Spectra, com contos sobre fantasmas, a coletânea Alter Ego, com histórias de heróis com poderes, e o livro Introdução à metodologia científica.



Banquete literário

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O SESC Amapá realiza no dia 17 de junho o 4° Banquete Literário no SESC Centro, às 20h. O evento contará com o lançamento do livro – O roteiro nas histórias em quadrinhos – do professor Ivan Carlo Andrade de Oliveira.
O Banquete Literário acontece desde 2010 com o objetivo de divulgar os escritores e a cultura literária amapaense.  O livro - O roteiro nas histórias em quadrinhos – aborda a criação de personagens, ambientação e as técnicas que fazem com que leitor embarque na história. Também traz capítulos sobre adaptação e elaboração de histórias em quadrinhos com texto e desenhos mais elaborados voltados para um público adulto, as chamadas Graphic Novel.
Na oportunidade, o autor também estará autografando o livro – Spectra - uma antologia de contos sobre fantasmas, lançado recentemente pela editora Literata.

Análise da história Castelos de areia

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A revista Kripta foi uma das melhores já lançadas no Brasil. Lançada pela RGE na década de 1970, ela reformulou a forma como se via o terror e fantasia até então. Antes dela, a principal referência eram as ótimas, mas já defasadas, histórias da EC Comics. Embora a revista origina (Eerie)l tenha surgido nos EUA imitando as histórias da EC, logo ela encontraria o seu próprio caminho ao publicar trabalhos mais autorais. O auge foi quando entraram os artistas espanhois e filipinos. As histórias inclusive se tornaram mais filosóficas e texto e desenho alcançaram um nível poucas vezes igualado nos quadrinhos.
Exemplo disso é a história Castelos de Areia, de Gerry Boubreau e José Ortiz (publicada na Kripta especial 1), que analiso abaixo.
Em tempo: essas histórias estão sendo relançadas em álbuns pela editora Mithos.
Castelos de areia é uma típica narrativa paralela. Nessa primeira página acompanhamos o primeiro nível dessa narrativa. Uma mulher foge para dentro de uma caverna. O texto está em terceira pessoa e tem como objetivo criar a sensação de terror, medo, angústia. Reparem nas metáforas: O túnel é frio como o útero de uma mãe morta, as paredes são enrugadas como as de um velho índio. A referência a ratos e vermes tem o mesmo objetivo. Trata-se aqui de um texto de ambientação, cuja função é colocar o leitor dentro da história, situá-lo tanto geográficamente quanto em nível de percepção que se espera dele. Nessa mesma página conhecemos um pouco mais sobre a personagem que corre e suas motivações: Ela é uma crente e está indo para o lugar onde se escondem os últimos crentes.
Nessa segunda página chegamos ao segundo nível da narrativa, agora num mundo que aparentemente é espiritual. Uma figura que logo descobriremos ser Deus constroi castelos de areia na praia enquanto a narrativa conta um pouco de sua história. É também uma narrativa de ambientação, que avisa o leitor que o cenário mudou. Estamos agora nos domínios da fábula ou da metáfora. Como a própria narrativa é metafórica (percebemos que Deus tem vários rostos e que morre a cada vez que morre um crente), o texto evita as metáforas, sendo mais objetivo.

Essa terceira página, intitulada "Lição rápida de história antiga" tem exatamente esse objetivo: situar historicamente o leitor, explicando como e porque começou a perseguição aos crentes. O leitor poderia ter começado por aí, já que esse é o ponto cronologicamente mais antigo, mas optou por um flash back para tornar a história menos linear. Uma estratégia interessante foi colocar o singular no meio do universal: no meio da narrativa mais geral, é contada  a história da jornalista que acusa o guarda de segurança. Essa é uma tática muito usada por Alan Moore, em Monstro do Pântano por exemplo, e ajuda o leitor a entender melhor os fatos mostrados.  Apenas com esse quadro sabemos que o nível de paranoia chegou a tal ponto que qualquer acusação poderia levar uma pessoa à morte. Aliás, um curioso paralelo com a inquisição espanhola.

Voltamos para a narrativa da caverna da crente Marti. Destaque agora para o aprofundamento de relações entre Marti e Loz. O desenho ajuda muito nesse sentido. Quando o texto fala dos sentimentos de Marti, ela está em primeiro plano e Loz em segundo. Quando descobrimos os sentimentos de Loz, ele está em primeiro plano e Marti em segundo plano. Detalhes como o fato de Loz gostar de fazer amor ao ar livre dão mais verossimilhança à trama e são um ponto a mais para que o leitor acredite na história.


Chegamos a mais um nível de narrativa (até agora já são 4 narrativas paralelas). Agora acompanhamos os policiais que irão exterminar os crentes. O texto fala sobre os personagens traidores diferenciando-os em termos de personalidade. Bosco trai os crentes por dinheiro, Reutman por ambições políticas. Interessante a metáfora no último quadrinho: as pegadas de Reutman são como pústulas na neve virgem. Como os quadrinhos são a arte da síntese, a boa escolha de palavras, de forte impacto, é de importância fundamental.
Voltamos para o nível de narrativa do planeta de deus, chamado na história de Janus Kah. Interessante que o texto procura  explorar o lado humano de Deus. Na mesma página, temos a quinta narrativa, sobre o presidente e a ironia aí é que o Presidente é mostrado como menos humano do que Deus. Mais uma ironia: a morte do último teísta pode ser o fim do Presidente. 

No primeiro quadro o texto repete duas vezes a palavra "leite": "A polícia se espalhou como leite derramado e Reutman parecia leite...". Não sei se foi erro de tradução, já que o roteirista até então havia sido bastante cuidadoso com o uso de palavras. Usar leite duas vezes como metáfora parece ser o ponto mais fraco da história. Em compensação, no quarto quadrinho, um texto bastante criativo: "Mais tarde, Marti estava rezando e Reutman atirou a faca. A prece e a lâmina ficaram em sua garganta". No final, a narrativa volta para o Presidente, agora apreensivo e torcendo para que pelo menos dois crentes escapem.

Última página da história. Com a morte da última crente, morre a última face de Deus. Interessante que a posição de Marti é parecida com a de Janus Kah para deixar bem clara essa relação. No último quadro, mais uma metáfora interessante: "Tudo que resta da passagem de Deus é a marca de sua mão. Terminados os castelos, o mar olha para ela, sofregamente". Castelos de areia é uma metáfora conhecida de sonhos (Fulano vive fazendo castelos de areia) e essa relação fica bem clara nesse último quadro. No trecho "O mar olha para ela..." temos a personificação, uma figura de estilo em que coisas ganham sentimentos ou características humanas e mostra o domínio que o roteirista tem da uso da linguagem.
Domínio da linguagem e domínio da narrativa: Gerry Boubreau transformou uma história simples sobre uma perseguição em uma trama interessante, complexa, pela alternância de pontos de vista e narrativas. E fez isso sem prejudicar a compreensão da história.

Curso on-line de mangá

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As inscrições para o Curso Mangá On-line da UNIFOR-Universidade de Fortaleza vão até 31 de agosto. O Conteúdo mediado pelo cartunista JJ Marreiro abordará desenho, arte-final, narrativa e história do mangá, intercalando momentos teóricos e práticos por meio de diversos recursos das tecnologias digitais. O aluno pode fazer o curso sem sair de casa (em qualquer lugar do país) e acompanhar as aulas nos horários que escolher.
A implementação do curso à cargo do Núcleo de Educação a Distância da Unifor, envolveu uma equipe de cerca de 30 profissionais entre pedagogos, designers, ilustradores e programadores.
O quadrinho japonês situa-se hoje no contexto da velocidade da informação do mundo moderno influenciando moda, comportamento, design e comunicação. Ao trazer aspectos da cultura japonesa para o ocidente, o estudo do Mangá propõe ampliar a compreensão sobre a arte sequencial em diversos aspectos e possibilidades.

INFORMAÇÕES:
(085) 3477-3479
e-mail: nead@unifor.br
www.unifor.br/nead
link direto: http://migre.me/5wrnU
Matrículas até 31 de agosto
Duração do curso 2 meses.

Deus ex machina

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Na Grécia antiga havia um recurso usado pelos maus roteiristas: quando não conseguiam resolver algo na trama, ou explicar o que estava acontecendo, um ator vestido de deus era baixado por um mecanismo  e resolvia a situação. Por exemplo: os personagens estão numa situação em que não há saída possível, o deus desce e os salva. Ou: há um furo monstruoso na trama, o deus descia e tentava explicar.
Isso era chamado de Deus ex machina e é uma falha grave de roteiro. 
Um exemplo clássico disso aconteceu em uma das edições da revista Calafrio. Havia um roteiro padrão na Calafrio, segundo o qual alguém muito mal era punido no final. Geralmente eram os mortos que voltavam do túmulo para se vingar. Mas nessa história, o vilão foi morto por um raio que atingiu seu carro. Só que, percebendo o furo, o roteirista colocou uma caveirinha no final, explicando: "Sim, eu sei que os pneus do carro criam um isolamento, protegendo as pessoas de raios, mas lembre-se: no mundo do terror, tudo é possível... hahahhahahahah".
Uma forma mais comum de deus ex machina é tirar a salvação dos heróis da manga. Tipo: eles estão sendo perseguidos e vão ser mortos pelos vilões. De repente aparece a polícia, do nada, e os salva.
Para evitar o deus ex machina, tudo na trama tem que ser amarrado. Em algum ponto lá atrás, alguém deveria ter chamado a polícia, mas, com o desenvolvimento da trama, o expectador esqueceu disso e só lembra na hora que vê a polícia chegando.
No filme Sinais, por exemplo, tínhamos uma menina com uma mania estranha: ela bebia água e deixava o resto em copos espalhados pela casa. No final, quando o ET invade a casa, há água por toda a casa, o que permite ao tio da menina usar isso para derrotá-lo (a água é como ácido para eles). Ou seja: o  roteirista pensou nesse final e providenciou uma explicação. Se os copos de água aparecessem do nada, o expectador iria dizer: ah, isso é mentira, e o pacto de verossimilhança seria destruído junto com os copos de água.

O pacto de verossimilhança pressupõe uma troca com o expectador: você acredita na minha história, em troca eu sou honesto com você. Vou, por exemplo, avisá-lo de quem é o assassino numa história policial (claro que essa pista é jogada no meio de outros fatos, e a tendência é esquecer, mas, quando vê o final, o expectador pensa: ah, mas era óbvio, como eu não percebi isso antes?).
O filme Sexto sentido é um exemplo disso: no final, quando descobrimos o que realmente aconteceu com o psicólogo, pensamos: caramba, era óbvio, porque não pensei nisso?
O filme Testemunha de acusação brinca com essa  situação: de repente aparece uma mulher, do nada, com provas que inocentam o acusado. Parece um deus ex machina, usado apenas para livrar a cara do personagem. Mas depois isso se revela parte de uma trama maior, que já estava sendo exposta ao expectador.

Entrevista com Anita Costa Prado

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Anita Costa Prado é uma roteirista brasileira premiada. Ficou famosa no meio com uma personagem lésbica chamada Katita. Num mundo dominado por homens e heróis anabolizados trocando sopapos, ela mostra que as histórias em quadrinhos podem ser poéticos e que não há  limites para os assuntos tratados na nona arte. Conheça, na entrevista abaixo, um pouco dessa talentosa roteirista. 
1 - Como você começou a ler quadrinhos? O que você lia? 
Comecei a ler quadrinhos na infância. Lia gibis do Tio Patinhas, Chico Bento, Professor Pardal, o adorável Zé Carioca, etc. Na adolescência passei a ler também tiras de jornais.

2 - Quais são os roteiristas que te influenciaram? 
Não foram exatamente influências mas admirava vários roteiristas e desenhistas como Eugênio Colonnese e roteiristas de histórias infantis. O roteiro que mais me impactou foi de Art Spielgeman (MAUS), por ser real, aliado a grande idéia de desenhar os personagens como animais, de acordo com os grupos étnicos.
Sempre me encantei pelos roteiros curtíssimos das tiras de Jim Davis e o Gato Garfield, além das ótimas tiras nacionais.

3 - Como surgiu a Katita? Qual era a sua intenção com a criação da personagem? 
Por gostar de tiras e conhecer os personagens que saiam regularmente nos jornais, senti que uma personagem lésbica seria interessante, pela inexistência de tal enfoque. A intenção era mostrar o cotidiano de uma jovem lésbica, com bom humor e ironia, como forma de suavizar a abordagem de um tema polêmico e repleto de conceitos equivocados.

4 - Você já foi premiada duas vezes com o Angelo Agostini. Isso mostra que o seu trabalho está chamando atenção do meio. Isso demonstra também um maior respeito com relação à temática gay? Na verdade foram três premiações. Em 2006, como roteirista e melhor lançamento (Tiras Sem Preconceito), vinculados a Katita. No ano seguinte, recebi o terceiro prêmio, como melhor roteirista mas além dos roteiros da Katita havia feito também roteiros poéticos em quadrinhos. Maior respeito talvez não seja o termo mas maior visibilidade; ainda há um longo caminho para o respeito as individualidades sexuais.

5 - Existem outros personagens gays, inclusive super-heróis. O que você acha deles? 
Personagens gays criativos preenchem uma lacuna e mostram as variantes sexuais pois o mundo não se resume a heteros. Tenho um pé atrás com super-heróis, sejam gays ou não. Gosto de personagens próximos da realidade.
Heróis com super-poderes parecem refletir o quanto nos sentimos inferiores por sermos simplesmente humanos.

6 - Como é o seu processo de criação? Você escreve ou rafeia as histórias? Você muda o texto depois de desenhado? Pede para fazer mudanças no desenho? Faço quadros descrevendo detalhes do ambiente, diálogos e posição dos personagens. Posso recorrer a colagens de imagens para dar uma idéia do que quero ou desenho um esboço básico, quase primário. Felizmente o Ronaldo Mendes, meu desenhista mais assíduo, entende o que quero transmitir. Ele desenha a lápis e me passa via computador. Observo se está tudo ok, solicito alteração (caso necessário) e só então, ele finaliza.Em outras ocasiões fiz roteiros  escritos, tipo argumento, propiciando maior liberdade para o desenhista exercer a criatividade e montar o visual, de acordo com sua vontade. Não gosto de mudar o texto depois da arte finalizada; só em situações extremas, como corrigir uma falha ortográfica no balão, por exemplo.

7 - Eu sempre digo que um bom roteirista deve ler e ler muito. Por isso, eu peço para os meus entrevistados indicarem livros interessantes para os leitores do blog, muitos dos quais serão futuros roteiristas. 
Ler é essencial para desenvolver a mente, se familiarizar com as palavras, textos, pontuação, etc. Creio que o bom roteirista deve ser eclético em suas leituras; ao ler publicações sobre roteiros de quadrinhos, vai ter muita informação útil e específica.  Indico MAUS, citado anteriormente e seu livro (O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos), além de publicações que tiveram alguma premiação ou indicação importante. Serve como avaliação. Ler a literatura tradicional também é interessante, como também livros que deram origens a filmes.
8 - Qual dica você daria para quem está começando agora como roteirista de quadrinho? 
Primeiro que preste atenção ao texto e diálogo produzido. Recebo material com tantos erros ortográficos nos diálogos que prejudicam a imagem, mesmo que seja boa e comprometem os desenhos. O roteirista trabalha com a idéia e com a palavra; tem que ter preparo básico. Estudo e leitura são primordiais. Outra questão importante é o roteirista ter em mente que seu trabalho  deve oferecer algo aos leitores e despertar interesse. Se o roteirista é também o desenhista, tem a vantagem de poder fazer tudo sozinho mas é bom ter uma opinião qualificada no decorrer do trabalho. Várias dicas externas são valiosas.

9 - Você usa uma mídia, os quadrinhos, que é vítima de muito preconceito,  para falar dos gays, que também são muito discriminados. Qual preconceito é maior? Quadrinhos com essa temática ajudam a diminuir o preconceito e, por outro lado, mostram que quadrinhos podem falar de qualquer coisa? 
A homossexualidade, sem dúvida, recebe maior carga de preconceito. Quadrinhos nem sempre são levados a sério e muitos encaram hq com arte menor, por desconhecimento. Recebi manifestações de pessoas que leram as publicações da Katita e constataram que quadrinhos podem ser veículo para questões adultas, profundas e também uma forma  de expressão artística.

10 - A personagem Katita já foi censurada alguma vez? 
Isso tem sido uma constante desde a criação (1995). Censura, exclusão, veto, solicitação de alterações na tira, comportamento da personagem e substituição de palavras nos balões. Sinceramente isso não me afeta, é um dos combustíveis para continuar. Tenho uma crítica pessoal em relação a personagem e algumas idéias são deixadas de lado por minha vontade já que não quero usar nada apelativo. Não preciso de censura externa, geralmente baseada em puritanismo tolo.Agora, se alguma observação é coerente, levo em consideração.



O livro Katita - tiras sem preconceito pode ser comprado no site da editora Marca de Fantasia. 

Material promocional do Mundo Monstro

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A campanha de lançamento do e-book Mundo Monstro já começou no facebook com o volante abaixo. Gostaram?


Gincana Mundo Monstro: O Livro Perdido

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Um mundo fantástico, povoado pelas mais incríveis e diferentes criaturas sobrenaturais, foi registrado em umlivro secreto. E nossos planos eram disponibilizar esses registros para a humanidade. Porém, seja por piada do destino ou forças malignas, o livro desapareceu.
Dada a gravidade da situação, convocamos você, humano, para se juntar a Érico, o aprendiz de detetive, nessa busca pelo livro perdido. Pegue sua lupa, vista um bom casaco, e mãos à obra! E lembre-se: Érico irá recompensar com prêmios aqueles que o ajudarem.
Mas cuidado! Também existem aqueles que não terão piedade de um simples humano…
Para participar, o primeiro passo é seguir no Twitter os perfis @ed_infinitum e @giandanton e curtir as páginashttp://www.facebook.com/infinitumlibris e http://www.facebook.com/pages/Gian-Danton/210520048984627. Depois, é só aguardar a primeira pista, que será dada no Twitter, dia 26/11, às 14h.
Os cinco primeiros detetives que descobrirem a respostas ganharão como prêmio uma cópia do e-book Mundo Monstro, de Gian Danton, e uma edição da revista Quadrinize, além de marcadores de páginas exclusivos.

Procura-se

Scan: a inspeção

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A história A inspeção, escrita por mim e desenhada por Bené Nascimento (Joe Bennett) e Pedro Vale foi publicada originalmente na revista Calafrio 47. Essa história surgiu da minha vontade de adaptar uma história de Nicolai Gógol para os quadrinhos. Eu e o Bené já havíamos adaptado a história O nariz na história Phobos, publicada na revista A hora do crepúsculo e dessa vez escolhemos a peça O inspetor Geral. Como seria publicada numa revista de terror, adaptamos a trama sobre um inspetor falso para um manicômio no século 19. Essa história, assim como boa parte das HQs feitas pela dupla Gian-Bené, nunca foi republicada e corria o risco de se perder. Assim, resolvi disponibilizar como scan. Para baixar, clique aqui.

I encontro amapaense de histórias em quadrinhos


Como é feita uma página dos Exploradores do Desconhecido

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Tudo começa, obviamente, no roteiro: a alma da HQ! Escolhi para este making of a página 3 de Operação Salto Quântico. Não porque a considere a melhor, mas apenas porque é uma das poucas páginas que ainda tenho no lápis, e assim posso mostrar a vocês o processo. Quando comecei o trabalho, eu desenhava as páginas numa folha sulfite e depois passava tudo a limpo numa outra folha, onde fazia arte-final. Parei com esse processo quando entendi que estava praticando uma forma lenta de suicídio. Hoje eu faço tudo na mesma folha.
Cada roteirista trabalha de um jeito diferente. Alguns escrevem roteiros bem detalhados, que descrevem até uma folhinha de árvore caída no chão. Outros pegam mais leve nas descrições – geralmente quando o roteirista sabe quem vai desenhar sua história e confia nele. Penso que estamos no segundo caso, pois como vocês podem ver o roteiro que o Gian Danton escreveu para mim é bem sucinto: Leia mais

Muiraquicon

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Sou um dos convidados especiais. Vai ter palestra e oficina minha sobre roteiro. São apenas 15 vagas para a oficina, então inscreva-se logo (a inscrição pode ser feita no site do evento)

Pequenas obras-primas

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Dia desses ouvi de uma pessoa que quer fazer quadrinhos que é impossível fazer uma boa HQ com menos de 12 páginas. Na hora eu me lembrei de uma frase do editor Franco de Rosa. Na época existiam revistas mix, como a Calafrio, que publicavam histórias curtas. Eu reclamei com o Franco que era difícil fazer uma boa história em 6 páginas. Ele me respondeu: Will Eisner fazia obras-primas com 6 páginas.
É verdade. As histórias do Spirit tinham 6 páginas e eram todas geniais, tanto em termos de roteiro quanto de desenho. Eram HQs tão boas que mudaram a cara dos quadrinhos, mostrando até onde podia ir a linguagem.
Não é o único exemplo. A EC Comics, na década de 1950 fazia histórias de terror e ficção-científica com 7 ou 8 páginas e o nível era altíssimo. Era uma das melhores coisas feitas na época.
Na década de 1970 um dos maiores sucessos no Brasil era a revista Kripta, que reunia histórias curtas de terror, fantasia e FC, todas com menos de 10 páginas. O nível alcançado por essa revista raramente foi ultrapassado. Os roteiristas conseguiam em 7 ou 8 páginas fazer histórias complexas, personagens com profundidade psicológica e textos poéticos.
São só alguns exemplos. Mesmo no caso de histórias seriadas há muitas que tinham capítulos curtos auto-contidos. Miracleman, por exemplo, era pulicada na forma de capítulos auto-contidos. Se você lesse um capítulo, entendia.
Na minha época ninguém se transformava em quadrinista sem aprender a arte da síntese.
Hoje, toda uma geração está crescendo lendo mangás que nunca acabam ou mega-sagas da Marvel e da DC em que o roteirista leva 600 páginas para contar uma história que um roteirista realmente bom, como Alan Moore, contaria em 20 páginas.
Está surgindo uma geração de quadrinistas que perdeu a capacidade da síntese. Lamentável.

War – histórias de guerra

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Quando fui convidado por Franco de Rosa para reescrever as histórias do volume War – histórias de guerra (com histórias escritas por Luís Merí e publicadas na década de 1960) imaginei que estaria cometendo uma espécie de sacrilégio. Afinal, sempre fui fã de Colonesse  e apreciava seus desenhos até nos livros didáticos. Tenho até hoje um livro de filosofia da FTD que, apesar do conteúdo fraco, foi guardado apenas por causa das ilustrações do mestre. Algumas semanas depois, quando o pacote com as histórias finalmente chegou à distante Macapá, pude ler as histórias e perceber que, de fato, elas não funcionavam para o leitor atual. Algumas tinham problemas estruturais, de com tradições internas, mas a maioria simplesmente apresentava uma narrativa datada,  típica de uma época em que desenho e texto eram redundantes.
Nesse período, minha mulher viajou com meus filhos e isso me permitiu algumas extravagâncias. Entre elas, escrever à noite (ao contrário de 99% dos escritores, eu não sou notívago).
Lá estava eu, com um monte de histórias prontas, que eu não havia escrito me perguntando o que poderia fazer. Decidir começar pelas mais difíceis, ou seja, pelas que apresentavam mais problemas, o que me deixaria mais à vontade para mexer nas outras. “Paredão” e “Granja” se encaixavam nesse perfil.
Alan Moore diz que o escritor deve “entrar” no personagem e no clima da história para conseguir repassar algo ao leitor. Como posso querer que meu leitor sinta medo se eu não sinto medo enquanto escrevo? Como querer que o leitor sinta o mesmo que o personagem se eu não sinto? Assim, cada vez que escrevo uma história, me vejo sendo possuído por seus  personagens.
Para escrever “A Granja” eu me imaginei como uma mulher vivendo em plena guerra que viu seus pais serem assassinados. Tive pesadelos com isso, com as explosões, a guerra e a crueldade nazista.
A experiência me mostrou algo que hoje considero óbvio: a protagonista Anita havia enlouquecido, embora o texto original não fizesse nenhuma menção a isso. Para demonstrar essa loucura, usei no texto a sinestesia, uma figura de linguagem em que os sentidos se misturam: cheirar cores, ouvir cheiros, etc.
Eu havia decidido que “Paredão” seria uma história romântica. Imaginei a protagonista, já velhinha, contando para alguém a história do amor de sua vida.
Para entrar no clima, peguei todos os CDs românticos que tinha em casa e os ouvi enquanto lia, preparava aulas, corrigia trabalhos ou produzia o texto para a história. Uma música de Roberto Carlos particularmente me chamou atenção: “A estação”. A música era narrada em tempo real e falava de um homem cujo amor de sua vida vai partir em um trem. A indecisão da mulher e a tristeza do homem eram mostrados com perfeição: “Para não me ver mais triste ainda ela sorriu, me olhou nos olhos, me beijou, depois saiu. Caminhou com passos calmos e parou. Me acenou mais uma vez, depois seguiu”. Era esse clima de separação que eu pretendia passar na história. Eu estava curioso para saber qual seria a reação à minha visão romântica da guerra e ainda estou.
Essas duas HQs me deram o parâmetro que eu deveria seguir nas outras e são minhas prediletas.

Nota: Essas histórias reescritas por mim e desenhadas pelo Colonnese foram publicadas no álbum War – histórias de guerra, da editora Opera Graphica em 2003. Foi uma edição de colecionador, numerada e autografada pelo desenhista exemplar a exemplar. O álbum inclui também uma história inédita, escrita por mim e desenhada pelo Colonnese  sobre a guerra do Iraque chamada “O gato e o rato”.  Um lindo trabalho a lápis que mostrou aquilo que os fãs do desenhista já sabiam: ele só melhorara com os anos.  

O texto nos quadrinhos

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Há dois aspectos que se deve considerar ao escrever o texto numa história em quadrinhos. E, quando falo de texto, vale tanto para legendas quanto para diálogos.
O primeiro deles é que quadrinho não é literatura. O texto quadrinístico só existe em íntima coesão com a imagem. O roteirista deve pensar visualmente, imaginar como seu texto vai interagir com os desenhos e que tipo de impressão essa junção vai causar.
O segundo aspecto é que o roteirista deve saber quem são os personagens. O ideal é que até mesmo os personagens secundários tenham uma história. Quem são eles? Quais são suas motivações, quais são os seus medos, quais são suas esperanças? Há alguma história de vida que podemos contar sobre esse personagem e que ajudem a mostrar ao leitor quem é essa pessoa?
Essas duas preocupações sempre dominaram minha produção de roteiros. Exemplo disso é a história O farol, publicada pela editora Nova Sampa e, posteriormente, na editora norte-americana Phantagraphics, com o nome de Beach Baby.
Na história um casal está na praia quando vê surgir um farol. Eles entram no local para investigar e acabam se perdendo um do outro. A sequência que apresento abaixo mostra o momento em que o rapaz se perde da namorada, e se vê em local totalmente escuro, sendo dominado pelo medo. 
Eu e Joe Bennett trabalhávamos com o marvel way, um método que só funciona se o desenhista for um narrador nato, como é o caso do compadre. Nós discutíamos a história, ele ia para casa, fazia um rafe das páginas e me trazia. Era sempre um desafio escrever o texto, pois ele conseguia contar tudo só com imagens. Isso exigia o máximo do roteirista.
No caso dessa página, o que escrever? O desenho já explicava facilmente a situação: o rapaz estava perdido e entrando em desespero.
Não fazia sentido colocar o rapaz falando sozinho. Embora esse seja um recurso usando em algumas HQs, a verdade é que só malucos falam sozinhos.
Assim, preferi trabalhar os pensamentos do personagem, mas explicitados por um narrador em terceira pessoa, para conseguir o efeito desejado.
Reparem que o texto começa contando um detalhe sobre o personagem, uma pequena história da vida dele, mas segue num crescendo até a conclusão final. O texto do último parágrafo encaixa perfeitamente com a expressão do personagem, conseguindo um efeito tanto de impacto quanto de ironia.

Reproduzo abaixo o texto:
“Fábio”
“Fábio”
“Fábio”
Ele repete o nome para si milhares de vezes.
Uma vez ele conheceu um ocultista, um homem  de óculos grosso e estante cheia de livros.
O homem disse que o nome de cada pessoa é um mantra para si mesmo.
Palavras sagradas que, repetidas várias vezes, trazem calma e paz de espírito.
Com Fábio isso não deu muito certo.
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